Fundada em 04 de junho de 1979, no Bairro da UR-06 Ibura, a Quadrilha Pelo Avesso na Roça e na Raça nasceu do desejo de um grupo de amigos (Joel Antônio dos Santos (seu 1º marcador), Beto, Marcos Antônio dos Santos, Adilma Maria da Silva e Sônia), moradores da localidade, que tinham um pensamento de criar uma quadrilha diferente. “Queríamos uma quadrilha que a cada ano modificasse seus estilos de dança e seus tipos de música. E que seus figurinos fossem bem luxuosos para chamar atenção. […] Esse propósito trouxe para a quadrilha a rejeição em alguns arraiais por apresentar um estilo de dança diferente das demais. Hoje a quadrilha tem o título de 1º quadrilha estilizada de Pernambuco, justamente por esse seu caráter inovador e diferenciado no modo de apresentar-se. Uma das marcas da quadrilha foi que em um ano, houve uma troca, onde meninas dançavam de meninos, e os meninos dançavam de meninas, depois dessa brincadeira surgiu a coincidência de se usar as calças pelo avesso”, diz Joel Santos.
Ousada para um período conservador nos seus hábitos, a Quadrilha Pelo
Avesso criou um estilo próprio de trabalho.
Seguindo o modelo das grandes quadrilhas de organizarem arraiais nos seus bairros, o palhoção da quadrilha tinha espaço disputado pela vizinhança e moradores dos arredores, em noites de apresentação. Quadrilhas convidadas completavam a programação da festa, que rapidamente popularizou-se no Ibura.
No seu 3º ano de existência, a Pelo Avesso participa do seu 1º concurso de quadrilhas, conquistando o 4º lugar, num arraial organizado na Rua Pedro Lins, no Ibura. O jeito diferente de dançar e de se vestir dos seus componentes rapidamente atrai uma torcida fiel na comunidade e nos arraiais onde disputava. “A quadrilha saía com três ônibus, um para os cavalheiros, outro
para as damas e o terceiro para os pais e acompanhantes”, diz Joel.
Em 1983, a diretoria da quadrilha decide não mais organizar o arraial na comunidade e passa a investir na criação de quatro novos destaques, muitos questionados na época por outros grupos. São eles: a Madrinha da Quadrilha, a Princesa do Agreste, a Cigana e a Miss Pelo Avesso. Outras inovações foram acrescidas ao grupo, como, por exemplo, as personagens da Sinhazinha e da Dama de Preto. A quadrilha também lançou “a brecada” na lambada das mulheres, além de lenços nas mãos, meia-arrastão, roupas bordadas com vidrilhos, franjas, lantejoulas, galão, bicos bordados de cambraia. O seu repertório era composto com músicas baianas da banda Chiclete com Banana e outros artistas do gênero.
Com um estilo definido, provocador e ousado, a Pelo Avesso entra no mundo da competição, sabendo das diferentes opiniões do público com o seu trabalho. Na sua trajetória, alegrias e tristezas merecem ser registradas. Em 1984, ganha o 2º lugar no concurso da Churrascaria do Pedro, na UR-06; no Bar do Galo (Bairro do Engenho do Meio) foi desclassificada; no arraial
da Quadra na UR-11, entre as 8 quadrilhas participantes, obtive o 2º lugar.
1985 foi uma data muito especial para a quadrilha. Os ensaios começaram em março, com muita garra e determinação. A comunidade se uniu no intuito de ajudar o grupo, organizando bingos, rifas e pedágios. Foi a primeira vez que a Pelo Avesso conquista o troféu de 1º lugar num arraial do
Bairro da Estância. Entre as 10 concorrentes, conseguem o título de campeã. No Bairro do Ipsep, entre as 9 quadrilhas, mais um 1º lugar e no arraial do Engenho do Meio, conquista o vice-campeonato.
Mais experientes, o grupo conquista em 1986, 17 troféus de primeiro lugar. Campeã das campeãs do Engenho do Meio, do Ipsep, da Estância, da Vila do Sesi, da Torre e da UR-5. Apresentação exclusiva no XXIX Congresso COTAL, indicado pela EMPETUR, participação na Feira dos Municípios
organizada pela EMPETUR. A quadrilha também realizou apresentações nas cidades de Paulista, Amaragi, Primavera e Ribeirão.
Outra data que entrou para a história da Pelo Avesso foi o ano de 1987, quando, no Festival Pernambucano de Quadrilhas Juninas promovido pela Prefeitura do Recife, conquistou entre as 84 quadrilhas concorrentes, o 1º lugar, além do título de Melhor Quadrilha de Pernambuco. A diretoria também recebeu o troféu dos 450 anos da Cidade do Recife. Nesse ano, o
grupo também fez parte da abertura dos Festejos Juninos do Circo Voador,
Estação Recife, PE.
Ao completar nove anos de existência, a Pelo Avesso cria a sua versão mirim e começa a participar dos arraiais de bairro com outras quadrilhas da categoria. A Pelo Avesso Adulta conquista nesse ano o campeonato do Centro Social Urbano do Ipsep.
Para o aniversário do 10º ano, a quadrilha comemorou a sua festa com apresentações em diversas cidades do interior de Pernambuco, como: Amaragi, Paudalho, Carpina, entre outras dezenas de municípios que convidavam o grupo para participação nos eventos culturais. Nesse mesmo ano, a popularidade da quadrilha ultrapassou as fronteiras do estado e chegou à Paraíba,
a convite do Secretário de Turismo de Campina Grande, para realizar a abertura do São João, no Parque do Povo, por dois anos consecutivos. Em 1989, a quadrilha também recebe o título de Campeã das Campeãs no Arraial da Tradição City, no Bairro do Ipsep. Nos anos 1990, a quadrilha repete o sucesso da década anterior obtendo muitos títulos de campeã em diferentes concursos do gênero. São eles: bicampeã no Estado de Pernambuco; bicampeã na Truaka (1992); tricampeã
do Arraial Deixa Meu Pé Quieto, no Ipsep; campeã no Arraial das Lavadeiras (Areias), ganhando o maior troféu do Recife, com 3,40m; bicampeã do Arraial do Galo, no Engenho do Meio, em (1991/92); bicampeã do Arraial da Quadrilha Boko Moko, na UR-05; bicampeã no Gonzagão na UR-O3, (1992-1993); campeã no Arraial da Bomba do Hemetério (1993); campeã no Arraial Carrossel, no Barro (1992); campeã no Arraial de Floresta, no Barro (1993); campeã no Arraial do Tio Chico (Olinda); campeã no São João na Roça, em Afogados; campeã no Arraial São João, na Cauvinha (1993).
Em 1993, identificada a necessidade de oportunizar o tempo dos componentes para além do período do São João, a quadrilha organiza, juntamente com alguns membros da diretoria, o Grupo Cultural Pelo Avesso, com atuação durante todo o ano. Entre as realizações do grupo, destacam-se as apresentações na Festa dos Motoqueiros, na Praça do Pilar, em Itamaracá.
Em 1996, a diretoria da Pelo Avesso decide encerrar seu trajeto, devido a outros interesses que passaram a fazer parte da vida dos componentes (família, trabalho, estudos), impossibilitando o grupo de continuar com a brincadeira. Durante 17 anos de existência, muitos nomes importantes passaram pela quadrilha: Joelson (o 2º marcador), popularmente conhecido como “Chinha”, Welma, Dona Cila, entre outros figurinistas, dirigentes e dançarinos, que reunidos numa grande família, orgulhosamente ostentam a condição de ser uma quadrilha que coleciona 215 troféus e mais de 300 medalhas.
Fonte: Livro “Nos Arraiais da Memória – As quadrilhas juninas escrevem diferentes histórias”. Mário Ribeiro – 2010
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